Eu ia me matar, mas acabei assistindo Neruda, aliás, o carteiro, aliás,
Breatissi, aliás, o amor, aliás a poesia sem café.
Eu só desejo que ninguém saiba que morri, até porque tenho médico
segunda e um monte de coisa pra fazer que não vou fazer.
Amor, amor, amizade, amizade, não correm, só te olham e te engolem como
se a vida fosse isso: uma farsa, um grande nada, um abismo sem graça.
Uns, dois, três já posso ouvir a rotina e o desespero silencioso batendo
em minha porta, não a de casa, pois, não há casa.
Tudo é verdade até o que não existe, ilusão é só um argumento
capitalista da capital dos hipócritas e eu sou apenas um corpo sem alma.
Minhas verdades são lindas, meu corpo é delicado, meu sorriso é frio,
mas todos admiram, eu sou uma poesia formosa, triste e condenada a morrer de
viver.
Há mais coragem em sumir, do que vestir um vestido de renda e gritar:
Sou forte e de fato ser, os fatos são cruéis e não espero nada.